
. Branca de Neve, Cinderela, A Bela Adormecida. Modelos de heroínas românticas que, ao contrário do que se poderia imaginar, no que diz respeito ao amor são muito parecidas com a maioria das mulheres de hoje. A mensagem central dos românticos contos de fadas é a impotência feminina. O homem tem o poder, a coragem, a força, e tudo o que uma mulher pode fazer é esperar que o Príncipe Encantado a considere atraente o suficiente para se interessar por ela. Por desempenhar um papel passivo - frequentemente está em coma, esperando ser salva por ele -, não o ameaça em nada, podendo ser, portanto, escolhida para ser sua esposa. No final ela alcança a realização ao subir no cavalo do príncipe e partir para viver feliz para sempre no castelo dele. É claro que a história tem que parar por aí. Além da jovem jamais ter interagido com o mundo, agora mesmo não se terá mais notícias dela, e muito menos do dia-a-dia do casal. A menina na nossa cultura aprende desde cedo a ser romântica e submissa. Além dos contos de fadas, todos os meios de comunicação, família e escola, colaboram para isso. Um estudo feito nos Estados Unidos concluiu que as escolas americanas ludibriam as meninas. Além de receberem mais atenção dos professores, os meninos são recompensados por se valorizarem e as meninas por serem dóceis e quietas. Assim, quando se tornam adultas, já estão bem treinadas para se comportar ajustando sua imagem de acordo com as necessidades e exigências dos homens, prisioneiras que são do mito do amor romântico. Para que a relação entre os sexos se mantenha dentro do esquema de superioridade do homem, a principal aspiração da mulher deve ser a de viver um grande romance, se sujeitando a qualquer sacrifício para isso. Cinderela não tem nenhum plano ou projecto de vida, senão ser salva pelo príncipe e se casar com ele. Mas o episódio do famoso sapatinho traz outro significado dramático. Para a mulher ter sucesso, melhorar de vida, seu corpo tem que corresponder a determinadas exigências masculinas, nem que para isso seja necessário mutilá-lo. É o que acontece com as irmãs de Cinderela, que cortam um pedaço dos pés, para que caibam no sapatinho. Entretanto, esses absurdos não pertencem somente à ficção. Na China havia o costume de se enfaixar os pés das mulheres, que, após muitos anos de dores insuportáveis, ficavam completamente deformados. O motivo? Simplesmente porque os homens achavam pés pequenos sexualmente excitantes. Numa tribo da África, os lábios da vagina da mulher são, desde a infância, esticados ao máximo, ficando pendurados entre as pernas, porque os homens julgam ser mais atraente. No Oriente Médio e na África, as próprias mães obrigam suas filhas a se submeterem à extirpação do clitóris e à infibulação, para satisfazer a expectativa do futuro marido. No Ocidente, observamos essas práticas com horror, mas, na realidade, não estamos tão distantes assim. As mulheres se esforçam para se enquadrar dentro de padrões de beleza definidos pelos homens. Convencidas de que a única forma de provar seu valor é agradando a eles, fazem de tudo. Gastam tempo, dinheiro e saúde - é comum passarem fome para se manter esbeltas - desenvolvendo, em alguns casos, doenças graves como anorexia e bulimia. A autora canadense Bonnie Kreps afirma que, quando se pensa numa mulher romântica, logo se imagina uma mulher sonhadora, delicada, suave, meiga, dócil. Como se veste? Tons claros, principalmente cor de rosa, e enfeites de rendas. É a mesma ideia que se tem da mulher feminina. Sua competência é limitada e sua sexualidade deve ser apenas do tipo passivo. O mito do amor romântico se opõe à autonomia pessoal. Quem aprova os papéis tradicionais de masculino e feminino, carregados de estereótipos, tende a buscar experiências amorosas do tipo romântico, longe da relação verdadeira com a outra pessoa. .